A Intuicionista

Nesta narrativa de extrema originalidade, Colson Whitehead põe em primeiro plano um meio de transporte vital, mas tão integrado à paisagem urbana que passa despercebido: os elevadores. Basta imaginar o mundo sem eles para ter idéia do impacto do enredo. O cenário é uma megalópole americana da década de 1960 (talvez Nova York, talvez Chicago). Ali, uma das instâncias mais altas de poder é justamente a Corporação dos Inspetores de Elevador, que se divide em duas facções: empiristas versus intuicionistas. Os primeiros realizam inspeções tradicionais, ou seja, aquelas realizadas com o conhecimento técnico apropriado. Os segundos, ao contrário, não precisam ver as engrenagens; são treinados para usar a sensibilidade, para captar todas as vibrações das máquinas pela intuição. Seu índice de acerto é dez por cento superior ao dos empiristas. A protagonista Lila Mae Watson é uma brilhante inspetora intuicionista negra. Ela não falha, e no entanto será responsabilizada por um acidente grave: um elevador se precipitará em queda livre num prédio que é a menina dos olhos do prefeito, a poucos dias da inauguração. Num momento em que as duas facções disputam não só a presidência da corporação, mas a planta de um elevador perfeito – a caixa-preta que há de instaurar uma nova era da civilização -, Lila Mae vê o acidente se converter em trunfo dos adversários, enquanto ela mesma se torna alvo certo dos empiristas. Com esses elementos básicos, Whitehead elabora uma fantasia irresistível sobre a verticalidade.